Sunday, July 22, 2007

aula prática...praticada!

Informação Solidária

«Informação Solidária»

Apresentada e Debatida na ESEC

"A docente da Escola Superior de Educação de Coimbra, Dina Cristo, levou no dia 11 de Junho, pelas 10h30 ao Auditório da Escola, o novo conceito de “Informação Solidária” para alunos e especialistas da área da Comunicação Social.

Durante cerca de três horas o conceito, os métodos e as práticas foram apresentados pelo especialista Carlos Cardoso Aveline, que marcou presença através da videoconferência, falando aos presentes a partir do Rio de Janeiro. O representante da revista CAIS, Henrique Pinto e a jornalista freelancer Gabriela Oliveira mostraram como se pode concretizar diariamente a “Informação Solidária”.

Numa plateia maioritariamente constituída por estudantes de Comunicação Social, surgiram algumas questões tanto no que diz respeito ao “novo” conceito que data já da década de setenta, como à sua empregabilidade no dia-a-dia ainda enquanto estudantes e cidadãos.

Moderadora: Docente Dina Cristo

Convidados:

Carlos Cardoso Aveline – autor do livro “Informação Solidária” (vídeoconferência)

Henrique Pinto – revista CAIS

Gabriela Oliveira – freelancer

Carlos Cardoso Aveline:

(em videoconferência directamente do Brasil, Rio de Janeiro;)

A ética como centro do dever e da conduta do jornalista;

O papel/atitude do cidadão perante a comunicação social;

“A nova era solidária do terceiro milénio, será também a era da cidadania plena.”

“Os meios de comunicação Social são cruciais neste processo de mutação de indivíduos e sociedade.”


Projecta a postura da comunicação social e do público como responsáveis activos na participação do poder.

Acredita na alteração de visões e comportamentos de uns para com os outros através da alteração de temas, da forma como os média os abordam e da forma como, serão recebidos e procurados pelos espectadores.

Prevê a diminuição da importância/domínio do poder político na construção diária da sociedade, pois caberá ao próprio cidadão reflectir sobre o estado do seu país e terá, não só competências como também interesse e esclarecimento para participar activamente.

Defende uma mudança na pirâmide das temáticas que regem as agendas e que preenchem os ouvidos e os olhos de horror. Para o autor, o Ser Humano é tendencialmente pacífico, nascido para amar e querer o bem, procurar o bem-estar, logo, capaz de superar este momento mediático em que a guerra, a morte, a desgraça e o terror são o centro dos interesses.

Henrique Pinto:

Henrique Pinto ainda não teorizou aquilo a que já chama de “Informação Solidária”. Trabalha na CAIS há mais ou menos dez anos (não sei precisar), neste momento é um dos responsáveis máximos da instituição, logo está ligado à maioria das acções CAIS.

Partilhou com a audiência a sua vida enquanto CAIS e só através dela podemos chegar ao Henrique como pessoa.

A CAIS é hoje mais do que uma publicação mensal, um organismo vivo da qual depende a saúde mental e muitas vezes física de umas dezenas ou centenas de pessoas.

A CAIS vai ao encontro dos que vivem na rua...dos que procuram uma oportunidade para regressar ao seu caminho (irónico mas verídico...estão na rua mas não sabem o caminho).

A CAIS custa actualmente 2 euros, é vendida por pessoas que não tinham condições para sobreviver autonomamente, quer por problemas de saúde, que por acidentes, etc.

A revista era inicialmente gratuita mas as despesas que acarreta impediam o projecto de seguir e foi necessário reverter a situação para evitar a “falência”. Ainda assim, 70% da venda de cada revista vai para o vendedor, 15% para as despesas de produção, 15% para a CAIS.

Henrique Pinto viajou por vários países onde viveu e onde olhou e viu o que se passava à sua volta. Em Portugal quis usar essas experiências e o seu conhecimento, tanto pessoal como intelectual para fazer algo pelos que viu “excluídos”.

Conseguimos apercebemo-nos que é um homem de palavras fáceis, discurso fluido mas cuja mensagem tem de ser ouvida pausadamente e com alguma reflexão. Faz de realidades complexas, formas e simples resoluções, de grandes problemas, pequenos desafios que considera serem facilmente ultrapassados com a ajuda e vontade de todos.

Dá a cara e corpo não só por causas mas por consequências, não só pela entidade, mas pelas identidades que dela dependem e que nela se formam.

Conhece o valor dessas pessoas e sabe que no futuro poderão retribuir socialmente para o bem que, com a ajuda da CAIS e de todos, podem dela receber agora, quando precisam.

Henrique Pinto veio fundamentalmente dizer que a revista CAIS não é simplesmente uma publicação mensal feita em papel reciclado, vendida por pessoas maioritariamente excluídas da sociedade a que pertencem.

Veio mostrar que a revista CAIS é uma instituição em que pessoas trabalham por e para pessoas, sobre temas que dizem respeito a todas as pessoas, que afectam e intervêm na vida das pessoas, com o “bónus” de poderem melhorar a forma de estar e a conduta de outras pessoas (as que vendem e a que compram se souberem ver).

Para mim, Henrique Pinto é o espelho e o reflexo da CAIS, é um CAIS e um Navio que continua a transformar mentalidades e sobretudo a contribuir para a alteração de presentes e futuros.

Gabriela Oliveira:

Trabalha como freelancer tendo participado com reportagens em jornais e revistas como o JN e o Expresso.

Nunca tinha ouvido falar do conceito de “Informação Solidária”.

Aqui está uma diferença entre esta convidada e os outros: Carlos Cardoso conhece e estuda o movimento, Henrique Pinto trabalha numa área em que à prior se poderia juntar o conceito de “informação”, neste caso na revista e “solidariedade” na acepção mais comum da palavra. Já Gabriela, considerava apenas que como qualquer outro jornalista fazia o seu trabalho. Talvez soubesse ou sentisse que tinha tendência para querer abordar temas difíceis, pouco atraentes ao lucro, desconfortáveis...coisa de freelancer que não gosta de estar sujeito a rotinas e agenda mediática, a temas “pré-datados”, “meta-acontecimentos”, etc.

Foi realmente cativante ver que não tem de se possuir rótulos, que se pode ser “simplesmente” jornalista, fazer de forma “isenta e objectiva” a nossa obrigação e mesmo assim, estar a fazer mais, estar a fazer melhor, estar a fazer certo. Abordar com imparcialidades temas escolhidos com “sentido crítico”.

Sensibilizou-me a simplicidade e a ternura com que apresentou alguns dos seus trabalhos e a firmeza e frontalidade com que relatou a forma como encara um trabalho desde que o pensa até que o publica. Desde a construção e busca da informação até ao confronto, nem sempre pacífico com as entidades que depois lho compram e publicam.

Mais uma vez foi referida a importância de cada um “fazer a sua parte”, construir com o que está ao seu alcance, dar o seu contributo.

Falou-se de novo do estar atento, ser activo, intervir, usar a sua voz, recorrer aos meios que nos podem dar essa voz."

p.s.: esta sessão foi organizada pela docente Dina Cristo tendo sido completada e acompanhada pelos alunos de Sociologia da Comunicação, sobretudo pelos alunos Bruno Castro e Sandra Silva.

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