Friday, July 20, 2007

«Relações Higiénicas»

A Comunicação como elemento básico da relação social

Propus-me fazer algo sobre o tema depois da aula de sociologia...umas citações aqui, umas divagações ali, a aula correu como sempre, por mais que haja cansaço, sempre há algo que fica, ou pela retina ou pelo tímpano, enfim...

A frase sobre a comunicação:

«O grande “mantedor” social» Dina Cristo (docente)

Como seres sociais dependemos uns dos outros para sobreviver e, é comunicando uns com os outros que podemos realizar com eficácia o nosso papel social. A comunicação vitaliza a relação social. Esta relação pode ser verbal e não-verbal.

“Somos monadas obcecadas pela comunhão.” Georges Steiner

O autor de hoje diz-nos que já não somos pessoas, células, tão pouco, massa. Agora apresenta o ser social como “monada”.

Resolvi então que esta podia ser uma forma de explicar a forma como, no dia-a-dia distinguimos através do cumprimento a forma como tratamos quem nos rodeia consoante o nível de intimidade que temos com cada um.

Todos os dias, a toda a hora exercemos a nossa força social (cada um consoante o seu estatuto), o local onde se encontra e as funções que assume, exterioriza de diversas formas essa força. Como a comunicação vitaliza a relação social o cumprimento é uma dessas formas de força social.

Assim, dizemos automaticamente:

- «Bom dia,

- Está tudo bem?»; ou

- «Olá,

- Estás bom?»;

(...)
A importância do pressuposto, das convenções e do implícito estão patentes neste cumprimento.

Por vezes, se a pessoa a quem cumprimentamos não nos é próxima, acabamos por nem sequer esperar resposta, ou esta, chega até a não existir pela concordância geral desta conduta.

Fazemo-lo pela negação à ideia de se ser tecnicamente “mal-educado”, acabando por construir um acto comunicativo falhado.

Neste “teatro” quotidiano em que cada um constrói o seu papel de “leagel alien” dentro das linhas comportamentais da sociedade em que se insere...cria-se um guião direccionado por alguém que não se vê...talvez o governo, talvez as instituições, talvez o dinheiro, talvez o poder...talvez o medo, ou simplesmente a indiferença!

Olhando os apontamentos encontro mais umas linhas paralelas à matéria...uns quantos rabiscos remetem-me para umas quantas palavrinhas:


Invenção vs. Convenção

Estar vs. Integrar

Ser vs. Pertencer

Acontece que durante a aula de sociologia cheguei a estas dicotomias, em grande parte cativada pelas palavras em si e pelo meu gosto pessoal em as questionar e em invadir a sua forma, descobrindo o que escondem por trás das utilizações que lhes damos.

Decidi então reflectir sobre elas. Durante o tempo em que tentava elaborar este trabalho, assisti ao programa da “A Dois”, “sociedade civil”, apresentado pela Fernanda Freitas, em que Fernando Carvalho Rodrigues, Engenheiro Físico, tecia algumas considerações sobre o futuro e as formas de comunicação (não sei ao certo o tema, mas falava-se muito de tudo isto e acabei por ficar atenta a tirar notas ao longo do programa).

“A partir do telégrafo nós separámos informação de comunicação, substituímos o mensageiro físico pelo comunicador ausente.”

Devo confessar que perante esta afirmação tive de reflectir durante algum tempo. Ainda não sei se concordo ou se discordo, não tenho conhecimento suficiente para tomar uma posição, não vivi a realidade anterior a este invento, nem tenho bem a noção do que este implicou na realidade que se seguiu e à qual assisto.

Creio que posso interligar a questão da comunicação programada e do “olá sem resposta” com esta reflexão sobre a separação da informação e da comunicação a partir do telégrafo.

O telégrafo é uma “invenção” Humana, logo, enquanto “invenção” foi criada com o intuito de se “integrar” no processo comunicativo.

Também as formas de cumprimento foram convencionadas pelas diversas sociedades. Não só estão na sociedade, como integram os seus usos e costumes. Não só são uma forma de comunicação como pertencem ao rol de actos convencionados propositadamente e, que de forma ordenada seguimos durante o processo comunicativo com os outros, por exemplo numa conversa.

Quando a integração dos novos conceitos ou convenções sociais não é bem conseguida e acontece que há um “estar” e não um “integrar”, há um “ser” mas não um “pertencer”, logo, trata-se de um acto comunicativo em que a sociedade envolve a convenção mas não a absorve!

No caso específico que quis referir quanto à comunicação, pretendo dizer, que me entristece bastante observar que cada vez mais as pessoas se relacionam num nível afectivo muito superficial e cujos “custos” a pagar para um bom relacionamento são cada vez mais baixos, no sentido que as pessoas não estão pré-dispostas a investir emocional, económica e até intelectualmente nos outros. Se ter uma relação de amizade, de amor, de trabalho, de desporto, etc...exigir que cada um tenha de abdicar de algo que é seu, seja tempo, dinheiro, descanso, ou outra coisa qualquer, as pessoas desistem dos outros como quem muda de local onde costuma tomar café, ou simplesmente como quem decide por que faixa da estrada quer andar.

Envolvem-se, relacionam-se, fazem o que essa relação exige que se faça e depois, desprendem-se dos laços e partem para uma nova investida, mais uma vez só e, exclusivamente se for do seu interesse até que novos valores se levantem!

Ex. hipotético: há uma cadeira que exige um grupo de 5 pessoas para o primeiro semestre. Alguém que, por mera sobrevivência costuma fazer a sua rotina, casa-escola e escola-casa com uma só colega (necessidade básica de companhia), vê-se na necessidade de juntar mais três pessoas aquele grupo.

Quem escolher se não se relaciona normalmente com mais ninguém?

A reacção normal destas pessoas, será “encostar-se” a alguém que preencha os requisitos para a necessidade de tirar uma boa nota.

Um bom aluno, alguém que trabalhe e alguém que se dê bem com todos.

Depois, acaba o trabalho, acaba o semestre, acaba a relação.

Deixa de se falar, sair, conviver com essas três pessoas como anteriormente, sem que nada dentro destas tenha ficado da convivência rápida mas intensa (como os trabalhos de faculdade geralmente exigem).

Chamo a exemplos como estes, “relações higiénicas”. Relações que como as vacinas de rotina, ou os medíocres comprimidos para a constipação, se tomam quando há necessidade, usam-se luvas, seringas novas, agulhas e depois, com toda a segurança, faz-se o que há a fazer e tudo acaba, sem nada mais.

Não me vou prolongar mais com este raciocínio pois creio ter sido clara através dos meus exemplos.

Concluindo, quem quase andou, ainda está aparado, quem quase aprendeu ainda está na ignorância, quem quase fez amigos ainda tem cerimónias, quem quase discutiu, ainda tem palavras na garganta, quem quase deu, ainda possui…

Assim, a “comunicação” só passa do “quase” quando há “relação”; comunicar é criar uma relação e as relações só se criam após vários actos comunicacionais. As pessoas continuam a insistir em comunicar sem se relacionarem com os outros, vivendo na ignorância de actos falhados!

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