Friday, July 20, 2007

A Sociedade do Efémero e do Vazio

«De que estamos cheios

-incapacidade de sentir

-pudor sentimental

-hiper-investimento no “eu”

-desejo de reconhecimento

-apatia/insensibilidade

-auto-protecção

«De que estamos vazios

-de solidariedade

-do desejo de partilha

-de emotividade

-altruísmo

-de uma consciência equilibrada

-de alma


“O ser que luta pela sua identidade está a despertar” Dina Cristo

O círculo do egocentrismo e da onda das modas está a reverter-se. De tanto nos habituarmos a ser o que a maioria ou uma minoria que desconhecemos quer que se sejamos, está a cansar mentalidades. Sentimos cada vez mais uma “extrodeterminação”, que é mais forte que a nossa consciência, que age para além da nossa vontade, que grita pela diferenciação.

De repente tornou-se “normal” ser “diferente”, isto é, passou a ser encarado pela “maioria” como sendo usual a “diversidade de estilos” e a conjugação dos vários acessórios que aos olhos dos “outros” nos caracterizam.

De tanto querermos sair da massa, dar o grito de revolta, sair da catalogação de géneros, comportamentos, classes sociais, tornamo-nos iguais a eles…iguais pelo menos na indiferença…na apatia!

Agora o apelo é à “reciclagem corporal”, uma nova versão do “mente sã em corpo são”, uma espécie de “mente aceite em corpo bem parecido”, em que o que importa são as aparências, em que até podemos ser um pouco caricatos, ter um pouco de atrevimento ou até sermos uma nadinha inconvenientes, mostrar alguma “personalidade” na multidão, desde que cultivemos os mesmos hábitos, desde que frequentemos os mesmos lugares, desde que aparentemente isso seja normal.

“O culto pela liberdade pessoal: a procura do interesse próprio e da realização dos seus desejos.”

Começa a ser agora possível, mesmo que disfarçadamente, ambicionar e procurar aquilo que somos para além do que querem que sejamos.

Escolher a direcção a tomar…o leque de opções e oportunidades abre-se e a noção de “sonho” é oferecida como resposta à «realização pessoal».

Acreditamos que finalmente poderemos “ser nós mesmos” sem rótulos nem receitas, que na sociedade haverá um cantinho à nossa medida, ou que esta nos “encherá as medidas”.

MAS, por todo o lado há solicitações, os padrões de liberdade aumentam consigo os padrões de exigência e essa mesma sociedade que apela aos nossos sentidos e aos nossos desejos de auto-satisfação.

É essa sociedade que diz permitir-nos uma “cultura-lego” e que somos nós os construtores da nossa vida com peças das mais variadas formas, diz-nos quais as peças que entram no jogo, as cores que têm quais as ranhuras que encaixam em quais das parcelas dessa mesma sociedade.

Damos a volta e voltamos ao mesmo, queremos ser diferentes escolhendo as diferenças que nos sugerem, queremos ser iguais a algo que não criámos…e esquecemo-nos de ser uns para os outros!

P.S.: Quando em miúda me comecei a aperceber de "mim", da minha pessoa, do "eu" que existia dentro do corpo com que existia, que me imaginei e me desejei diferente de todos...apesar de ver que mesmo fisicamente não havia alguém igual a mim, temia por essa pessoa que pensava dentro do corpo que brincava.
Depois, na adolescência fui tomando cada vez mais a consciência de que de facto estava a conseguir ver os resultados desse meu investimento da diferenciação...e não estavam a ser agradáveis...de um momento para o outro a vida obrigou-me a ser diferente...
transformou-me mais do que eu queria...
mais do que eu deixei...e cheguei a desejar de tal forma ser "simpesmente normal" que reneguei e repudiei a minha própria originalidade...
Agora ando de novo nos caminhos do único...retorno aos dias aurios de infância em que achava poder ser quem eu quizesse, em que, cheguei muitas vezes a conseguir querer ser...aquilo que já era!

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